+jabá!

Um jornalístico organizado por alunos do curso de Comunicação Social da UFC

Seu Alves, o Sapateiro

Através das lentes e da sensibilidade de uma fotógrafa, o +Jabá convida os leitores a conhecerem o autor das frases nos muros das redondezas do Terminal do Papicu – antes que apaguem tudo.

Texto e fotos de Iana Soares (xJ)

Ele é branco, azul e vermelho, descobriu o segredo da felicidade e avisa logo: quem guarda com fome, o gato vem e come. Nós, que passamos apressados pelas ruas da cidade, merecemos ler as letras e as palavras de gentileza. As palavras pintadas por Seu Alves, o Sapateiro.

Este ensaio é um convite para olharmos para a cidade e senti-la. Um convite para descermos do ônibus, do qual vemos aquele senhor e seu muro colorido, e conversarmos. Antes que apaguem tudo, mais uma vez.

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Sob o sol febril de Iracema – parte 1

IMGP0145edaeComeça lá pelo fim de junho: a faixa de areia salpicada de prédios com janelas de vidro espelhado recebe turistas de todas as partes do mundo. Não é novidade alguma para quem mora por aqui. Porém o +jabá passeou pela Praia de Iracema durante a Alta Estação e publica uma série de textos descompromissados sobre alguns encontros espontâneos com personagens que vão além dos vendedores ambulantes, turistas do Norte e Sul e jovens prostitutas – velhos conhecidos deste cartão postal fortalezense.

Por Yuri Leonardo (6J).

O clima abafado e o sol tinindo obrigam qualquer visitante a apertar os olhos. Os desbravadores da Praia de Iracema não podem pisar na areia calçando sapatos de couro ou vestindo calças sociais. Há risco de queimaduras de 3º grau, combustão instantânea ou algo que o valha. Após uma pergunta ao garçom e segundos ao desvendar o funcionamento de uma tranca-gambiarra do banheiro da barraca Satehut, ali numa altura boa da Av. Beira Mar, troco o traje de trabalho por um par de chinelos havaianos, bermuda e blusa abotoada pela metade.

Na areia, D. Maria Amélia da Conceição me pergunta se quero sentar na mesa onde ela está. Sol forte dificulta a vista. Recuso sorrindo e digo que estou esperando companhia, mas paro ao lado dela, entre europeus, americanos e brasileiros sulistas que turistavam durante uma segunda-feira de julho em Fortaleza. A senhorona solta: “é que amanha faço aniversário”. Quantos anos vai completar amanhã? “Setenta e cinco”, pontua.

Parabéns!, sorrindo. Despedida. Aceno. E procuro uma mesa vazia.

Receio de perguntar se vai passar o resto da vida vendendo flores na praia.

Já fizeram até reportagem sobre ela – contou depois, quando sentou à minha mesa minutos após nosso primeiro encontro.

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D. Maria Amélia diz “eu te amo” para turistas do norte europeu que se bronzeavam. Uma das estrangeiras não entende e encara a quase-75-anos, que veste um blusão com uma figurinha curiosa de braços abertos e uma legenda ABRAÇA-ME. Repete: “eu te amo, bonita, eu te amo”. As turistas trocam frases em grunhidos nórdicos. Não dão dinheiro algum à Dona Amélia “pra ajudar a comprar bombom e chilito pra vender aqui na praia amanhã”.

Uns minutos de conversa. Ela se levanta e segue pela areia, para garantir os 75 anos no dia seguinte.

A senhora vai trabalhar mesmo amanhã, no seu aniversário? “É…”, coça a cabeça de cabelinhos ralos, branco, cinza, preto, sol apertando os olhos de qualquer um. E Amélia se mistura à luz intensa que domina a vista branca, confundindo o corpo junto aos estilhaços brilhantes dos óculos escuros dos turistas, de cascos de cerveja dourados na areia e das cadeiras de plástico branco das barracas.

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