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A série do +jabá sobre o Jacarecanga continua. Hoje com mais um casarão do bairro, aquele onde viveu Thomaz Pompeu Sobrinho e que desde 2006 abriga a Escola de Artes e Ofícios da Secult

por Paulo Araújo (4J)

Quem passa pela Avenida Francisco Sá, a poucos metros da Praça do Liceu, dificilmente ignora um imponente casarão, bem restaurado, com uma reluzente fachada amarela. Um resquício da antiga nobreza do Jacarecanga, a casa de Thomaz Pompeu Sobrinho hoje abriga a Escola de Artes e Ofícios (EAO), equipamento do Governo do Estado que realiza atividades de qualificação profissional em restauração e conservação do patrimônio cultural com jovens e adultos da cidade.

O casarão data de 1929. E, após 5 anos de construção, serviu de residência à família de Thomaz Pompeu Sobrinho, engenheiro e antropólogo de rica e influente família no início do século XX em Fortaleza. Thomaz Pompeu, o tio, era o Senador Pompeu, primeiro diretor do Liceu do Ceará e líder do Partido Liberal no Estado.

O casarão é um dos poucos prédios  Foto: Divulgação

O casarão é um dos poucos prédios da Fortaleza do início do século 20 que resiste à voracidade do progresso Foto: Divulgação

O CASARÃO

Construído de 1924 a 1929, o casarão é um patrimônio arquitetônico da cidade num período notadamente marcado pela influência da arquitetura européia. É um exemplar característico do Art Noveau em Fortaleza.

A fachada impressiona. Um portal de concreto, artigo de luxo na década de 1920, ergue-se ao fim da pequena escadaria que dá acesso ao hall de entrada. A visão é contrastante. Um olhar para fora nos deixa de cara com a Avenida Francisco Sá, com seu intenso fluxo de veículos. O barulho dos ônibus grita que estamos em uma metrópole. Quando nos voltamos para dentro do casarão, somos transportados de volta a um tempo em que o antigo bairro Fernandes Távora, o atual Jacarecanga, abrigava a elite de uma Fortaleza ainda tranqüila.

A sala possui, assim como todo o casarão, um rangente piso de madeira. As paredes são enfeitadas com delicadas pinturas. As janelas de madeira pintada de branco, o altíssimo pé-direito e uma escada em caracol que leva ao segundo andar fecham o clima bucólico na sala. Mas o contraste entre a modernidade e o passado chama a atenção de quem visita a casa. Ao lado de uma janela de 80 anos, há uma ilha digital. Computadores conectados à Internet estão à disposição da comunidade e são o principal atrativo da casa para a maior parte dos jovens que a visitam.

A casa é ladeada por jardins bem cuidados, que mostram o zelo das mais de 20 pessoas que trabalham no local. O estagiário da EAO Carlos Alberto Pereira foi quem nos guiou em nossa primeira visita ao casarão. Estudante de Filosofia, Carlos se diz empolgado com seu trabalho e, ao longo da visita, destacou a importância de se revitalizar o Jacarecanga a partir da lembrança cultural arquitetônica de Fortaleza.

Ainda no primeiro andar, há  um refeitório com janelas que dão para o grande jardim de Thomaz Pompeu Sobrinho. A área total do terreno é de 2147,84 m².

É já quase nos fundos da casa que vemos um dos mistérios do casarão. Uma escada de concreto nos leva ao porão. A questão é: em 1929, não se fabricava cimento no Brasil. Se um portal de concreto na fachada se justifica pela beleza arquitetônica, acredita-se que a escada do porão era um símbolo de ostentação dos Pompeu. Segundo Carlos Alberto, a origem da escada é incerta. A hipótese mais provável é que ela tenha vindo já pronta de Portugal em um navio.

O porão, de teto baixo e paredes caiadas, reserva uma surpresa. É possível ver a estrutura de sustentação da casa: colunas de concreto e trilhos de bonde, que faziam as vezes de vigas metálicas. O porão servia de depósito e abrigo para os agregados da família, como índios que Thomaz Pompeu Sobrinho trazia para sua casa como objetos de seus trabalhos antropológicos.

No segundo andar, ficavam os quartos da família, hoje utilizados como salas de aula e gabinetes da administração da Escola. No início do século, eram comuns as “casinhas de asseio” externas às casas. O banheiro dentro da casa, presente no segundo andar, demonstra uma inovação arquitetônica para a época. A pia de louça, vinda de Liverpool, era mais um artigo de luxo.

A varanda, de posição privilegiada na fachada, nos leva de volta à visão dos carros e ônibus da Avenida Francisco Sá. É da varanda que se tem acesso a uma espécie de torre: um quartinho que representa todo o terceiro pavimento do casarão. Infelizmente, o quarto é utilizado como depósito pela Escola e não é permitida a visitação. Por vários anos, Thomaz Pompeu Sobrinho deve ter desfrutado de sua torre com vista para o mar.

Após conhecermos todos os cômodos do casarão, Carlos Alberto nos leva de volta à parte externa da casa. Numa varanda lateral, funciona a Biblioteca Thomaz Pompeu Sobrinho, mais um serviço da EAO para a comunidade. O acervo da biblioteca destaca assuntos referentes ao patrimônio cultural e à arte.

A ESCOLA

A Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho é um equipamento da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará – SECULT, gerido pelo Instituto de Arte e Cultura do Ceará – IACC. O casarão foi restaurado em 2002 e, desde 2006, abriga cursos que buscam a capacitação profissional em restauração e conservação do patrimônio cultural material, bem como de valorização do patrimônio imaterial do Estado do Ceará, ressaltando sua importância e relevo histórico e cultural.

A própria restauração da casa foi resultado de cursos de restauração do patrimônio arquitetônico, com especializações em Alvenaria Artística, Pintura e Carpintaria. Além dos cursos de restauração, a EAO oferece o curso Marcas da Cultura, uma formação básica para o tratamento e o trabalho em couro, e o projeto Brincar de Criança, voltado para a valorização e produção de brinquedos artesanais.

Veja a entrevista com Juliana Marinho, coordenadora-geral da Escola de Artes e Ofícios.

serviço

A Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho fica na Av. Francisco Sá, 1801, no Jacarecanga. É aberta a visitação de segunda a sexta-feira das 7h30 às 12h e das 13h30 às 17h

Fone: (85)32381244 // Email: eao@eao.org.br

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